Você já se sentiu como a criança desta foto? Encolhida num canto? Procurando em vão não testemunhar cenas de violência? Essa violência pode ser contra você ou contra alguém de sua casa? A partir disso é possivel compreender as dores e defesas da criança, que o sujeito ainda carrega consigo quando adulto.
Provavelmente na época em que você foi criança, muito pouco era comentado sobre o tema. No entanto, hoje em dia está cada vez mais sendo debatido. Temas como violência doméstica, abuso de poder parental sobre a criança e as consequências graves que estas experiências trazem para a vida emocional das pessoas.
Os estudos contemporâneos sobre codependência, personalidade narcísicas e borderlines e outros, ampliaram o conceito de abuso infantil. Outrora quase limitado a eventos extremos, tais como abuso sexual. Atualmente considera-se que os pais abusam da criança toda a vez que não respeitam a hierarquia da relação pais-filhos. Em outras palavras, sempre que não protegem a criança e não a ajudam a se desenvolver. O vínculo pais – filhos, pressupõe uma hierarquia na qual duas pessoas adultas, resolvem ter uma criança pela qual serão responsáveis até crescer.
Basicamente são três os tipos de abusos mais encontrados:
abuso físico — violência física contra a criança ou contra pessoas da família, tendo a criança por testemunha, levando a estas dores e defesas.
abuso sexual— inclui não apenas relações sexuais de adultos ( incesto por exemplo) com crianças. Está ligada a formas variadas de insinuações sexuais e cuidados físicos abusivos por parte de adultos próximos.
abuso emocional— muito freqüente entre as famílias ditas “normais”. Implica em qualquer tipo de negligência e descuido para com as crianças, sendo freqüente uma inversão de dependências, onde se espera que a criança seja mais adulta do que é. A criança, o invés de receber cuidados, deve cuidar dos adultos carentes da casa.
Quando a gente é criança e impotente tudo o que se pode fazer diante destas situações de tensão e terror é uma submissão ressentida, plena de vergonha e humilhação e , talvez , uma promessa para o futuro do tipo : “o dia que eu crescer não vou mais permitir que isto ocorra”.
São destas promessas redentoras da dignidade da criança, nestas situações traumáticas, estressantes , desconfirmadoras e de completa impotência que sintomas são gestados. Esses sintomas podem ser fobias, depressões, personalidades narcísicas e borderlines, obesidade, etc.. Mais ainda , é do aprendizado e da tomada de decisões frente a estas situações que boa parte das escolhas neuróticas que tomamos em nossa vida adulta está calcada.
O objetivo do trabalho com a criança interna dos adultos é fazer com que eles, compreendendo as distorções e o forte impacto das experiências precoces da infância em suas vida , tomem responsabilidade. assim poderão conseguir modificar seu comportamento atual. O foco principal do trabalho não é rememorar ou culpar/perdoar os adultos que cuidaram do paciente quando criança. A ideia, sobretudo, é compreender o que estes pacientes fizeram consigo mesmos em função de como viveram as relações de dependência infantis.
Um trabalho com criança interna dos adultos visa ajudá-los a desenvolver um EU mais maduro e responsável. Tudo isso para que esse EU possa providenciar proteção e cuidados para sua parte infantil. Esta diferenciação adulto – criança vivida experiencialmente ajuda o cliente a redecidir e/ou descobrir novas formas de resolver problemas. Isso se evidencia imediatamente através de sentimentos, pensamentos, comportamentos e atitudes novas.
O importante é que o paciente não apenas rememore cognitiva e verbalmente o que se passou na sua infância. É preciso que ele re-experiencie a emoção destes eventos no presente. O psicodrama como estratégia técnica e como postura ideológica diante do ser humano é extremamente valioso nesta questão. Ele propicia o aquecimento necessário para que o drama infantil ganhe corporeidade no “ setting ” terapêutico. A partir disso temos uma atitude clínica de aceitação, respeito e continência, absolutamente necessários para o paciente rematrizar novas maneiras de lidar consigo mesmo.
Resgatar a criança – interna dos adultos é convidá-los a jogar o papel de crianças de novo. Olhar seus machucados de outrora, perceber os curativos que a própria criança se fez e deixar algumas destas feridas cicatrizarem de vez. Outras terão que ser tratadas com remédios novos de última geração. É enfim, resgatar a espontaneidade e o assombro para que o adulto torne a brincar e criar com a sua vida.