DESCULPAS INTERCULTURAIS: SERÁ POSSÍVEL REPARAR ERROS DO PASSADO NO PRESENTE? Rosa Cukier

 

 

No 20° Congresso Brasileiro de Psicodrama em 2016  dirigi , com auxílio das psicodramatistas Maria Célia Malaquias[1] e Cristine G. Massoni[2] um sociodrama grupal com o título: Dor Étnica: orgulho, vingança e reparação. Foi um trabalho intenso, que utilizava, como técnicas centrais, o psicodrama interno e o compartilhar grupal.

 

Temas como: distúrbios étnicos, narcisismo[3], narcisismo grupal[4], racismo[5], vergonha, vingança e reparação já constavam das preocupações teóricas da diretora e da ego auxiliar. Neste sociodrama busquei, através de consignas muito estruturadas, as alianças grupais dos participantes, suas primeiras “tribos” e quais eram os sentimentos, emoções, legados positivos ou negativos desta pertinência.

 

Várias consignas estimulavam a identificação de sentimentos de orgulho. Por exemplo, quais aprendizados valiosos cada participante carregava consigo, até hoje, advindos desta primeira inserção social. Outras consignas propunham a rememoração de cenas de vergonha, onde o mesmo grupo primário havia sido ofendido ou havia sido ofensivo com outro grupo ou com outrem.

 

No final do trabalho solicitei que os participantes escrevessem pedidos de desculpas, tanto as desculpas que gostariam de ter ouvido em relação ao seu grupo, como aquelas que achavam que seu grupo deveria pedir a outros.

 

E foi aí que me surpreendi e é onde este novo trabalho começa. Registreis cerca de 50 pedidos de desculpas, sobre os mais diferentes temas: famílias pedindo desculpas para outras famílias, pais para filhos, nacionalidades para outras nacionalidades, adultos para crianças, ricos para pobres, times de futebol, religiões entre si, etc. ( leiam os pedidos de desculpas no apêndice final ) [i].

 

A intensa carga de emoção expressa nestes pedidos de desculpas me fez indagar se eles seriam efetivos numa mudança de atitude dos participantes do workshop.Na realidade resolvi investigar a literatura especializada sobre o tema “desculpas”, tanto no nível individual quanto grupal e como seria possível instrumentalizar este conhecimento em futuros sociodramas.

 

O QUE É PEDIR DESCULPAS?

 

Segundo Tavuchis (1991:27) um pedido de desculpas é uma fala que busca o perdão por algum erro cometido, reparando injustiças e restaurando a dignidade da parte ofendida.Desde crianças somos ensinados por pais e professores a pedir e aceitar desculpas, uma vez que nós , seres humanos, somos falíveis e precisamos consertar erros relacionais. A não aceitação de uma desculpa transforma , ironicamente, a vítima no transgressor, porque ela evita que estas reparações sejam feitas.

 

Existem diferentes categorias de desculpas: desculpas entre indivíduos ( um amigo que foi injusto com outro) ; entre indivíduos e grupos (um executivo pede desculpas por um acidente numa usina), entre grupos (um time de futebol pede desculpas ao outro pela violência da torcida); desculpas nacionais (o governo australiano para seus aborígenes, por ter-lhes roubado a terra)[6]; internacionais ( A Bélgica pede desculpas por genocídio em Ruanda em 1994)[7], desculpas diplomáticas (as desculpas da China ao Japão por apreender o navio a vapor japonês Tatsu Maru em 1908)[8], desculpas históricas ( por crimes contra a humanidade , como por exemplo a Alemanha em 1990 para os judeus, pelos crimes do holocausto)[9].

 

Talvez em Psicologia pudéssemos acrescentar as desculpas intrapsíquicas, onde a própria pessoa se desculpa por algo errado que fez para si mesmo, para sua vida.

 

O SURGIMENTO DE UMA ERA DE DESCULPAS

 

Parece que houve um modismo Internacional nos últimos anos do século passado, com vários pedidos de desculpas sucessivos. Segundo Lazare (2004) foram publicados, de 1990 a 1994, 1193 artigos que continham as palavras “desculpas” ou “pedir desculpas”. Em 1970, o chanceler alemão Willy Brandt ajoelhou-se frente a um memorial para lembrar as vítimas do Holocausto , simbolizando o reconhecimento dos erros do passado e o desejo de reconciliação entre alemães e judeus. Celermajer (2006:17) , apropriadamente, aponta que partir deste momento “a moralidade começa a se tornar uma força política” .

 

Durante os anos 80 e 90 o papa João Paulo II pediu desculpas por nada menos do que 94 coisas, dentre elas: pelas Cruzadas e Inquisição, pelo obscurantismo científico da igreja, pelo tratamento dispensado a Galileu, pela opressão das mulheres e pelo silencio da Igreja durante o Holocausto. Ele fez estes pedidos como preparação para o novo milênio, pois acreditava que não se pode curar o presente sem fazer reparações pelo passado.

 

A fig. 1 sumariza alguns pedidos de desculpas diplomáticas e históricas :

 

Os acadêmicos, incluindo sociólogos, cientistas políticos e estudiosos dos direitos humanos têm tentado compreender o fenômeno da desculpa e reconciliação através de perspectivas políticas, sociais, históricas, religiosas, morais, antropológicas e legais. Por que as desculpas se espalham por toda a comunidade global? Quais são as repercussões políticas dessas desculpas? As desculpas podem ser eficazes? Em caso afirmativo, quais são os componentes que fazem uma desculpa efetiva?

 

Várias explicações foram dadas para esta alta incidência de desculpas incluindo o surgimento do liberalismo dentro das sociedades democráticas e as revoluções socialistas que promoveram os direitos humanos, com ênfase na paz e na cooperação, em vez de conflitos.Países que se reconstruíram após políticas ditatoriais e repressoras usaram “desculpas” como uma forma de facilitar a cura coletiva da nação e suavizar a transição para uma nova forma de governar. Era preciso promover a cooperação, a paz, a fé no dever moral universal e isto só podia ser feito com a aceitação da responsabilidade pelas injustiças passadas e recentes.

 

Lazare (2004:16) sugere também que houve uma mudança no equilíbrio de poder, fazendo com que grupos outrora impotentes, começassem a reivindicar seus direitos, lembrando desigualdades e iniquidades do passado. A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas elaborada em 1948, tem seu impacto nesta promoção de remendos nos erros do passado, na medida em que exige que os países das Nações Unidas promovam o respeito universal dos direitos humanos e das liberdades fundamentais em relação à raça, sexo, língua e religião

 

Outra possível explicação é a globalização da informação através de nossas potentes mídias pois torna impossível que abusos políticos, internacionais e mesmo pessoais permaneçam na obscuridade. É o poder da opinião pública, com um aumento dos grupos de lobby em defesa das vítimas e grupos minoritários. Pedir desculpas muitas vezes é a estratégia usada para voltar a ter acesso à comunidade internacional que retalia o abusador e simpatiza com a vítima.

 

CULTURA E PERDÃO

 

Em cada cultura o pedido de desculpas tem uma forma e um peso moral específico, existindo até formas sutis de se pedir desculpas sem se desculpar, ou seja, sem assumir responsabilidade pela dor ou humilhação infringida. No Japão e em todas as culturas mais coletivistas[10] manter as relações interpessoais e a comunidade em harmonia é prioridade. O ato de se desculpar é considerado uma virtude e significa mais do que arrependimento, uma responsabilidade coletiva. É uma cortesia para todos quando uma determinada pessoa admite seu erro publicamente e se responsabiliza por ele, quase uma forma de limpar toda a comunidade de atos semelhantes que possam surgir no futuro. Um exemplo aqui seria o pedido de desculpas da estrela pop japonesa Minami Minegishi após revelações de que ela passou a noite com seu namorado: ela apareceu num vídeo no youtube, com a cabeça raspada, implorando ao público o perdão, em um ato de contrição tradicional.

 

Já nos Estados Unidos e Europa, onde o individualismo é mais acentuado, os erros são vistos como déficits individuais, redundando em culpa e demandando , muitas vezes, atos de reparação. Muitas empresas não pedem desculpas pelos seus erros, para evitar serem dilapidadas pelos pedidos de indenização. Por outro lado extremamente comovedor foi o ato de Willy Brandt , ex-chanceler alemão, que em 1970, diante do memorial às vítimas do holocausto em Varsóvia, ficou de joelhos, silencioso e de cabeça baixa por cerca de 30 segundos. Ele confessou, depois, que este ato foi totalmente espontâneo, pois lhe faltavam as palavras para dizer o quanto lamentava toda a dor causada pelo erros de guerra alemães.

 

Na China, a comunicação é frequentemente indireta e sutil. Quando um chefe quer dar uma reprimenda em algum funcionário, por exemplo, ele provavelmente o chamará para uma conversa privada, pedirá desculpas por estar lhe dizendo algo desagradável e fará a crítica. O pedido de desculpas no caso é uma forma de avisar que algo desagradável está por vir. Se alguém pedir desculpas para um chinês em público pode ofendê-lo, pelo excesso de constrangimento presente na cena.

 

Não há dúvidas que em todas as culturas é importante pedir desculpas, mas quando isto é feito entre culturas diferentes, é preciso levar em conta as distintas convenções sociais, sensibilidades e tradições políticas, além dos diferentes idiomas.

 

O NÃO PEDIDO DE DESCULPAS [11]

 

Muitos pedidos de desculpas são gestos vazios, uma expressão de arrependimento ou oferta de empatia, uma espécie de ato político para evitar litígio ou retaliações. Ex: “Lamento que você tenha se ofendido por algo que eu disse” – reparem que não há nenhum sinal de reconhecimento de que algo errado foi feito, apenas que o outro é sensível, talvez até, sensível demais.

 

Lauren Bloom, autor do livro “The art of Apology” relata um formato de pedido de desculpas condicional que, na realidade, é uma desculpa escorregadia ou uma não-desculpa , pois ninguém se responsabiliza por nada. Vejam:

      …..Se eu fiz alguma coisa errada, peço desculpas”;

       …. se o que eu disse ofendeu alguém…etc.

 

Nestes exemplos sarcásticos existe uma arte de falar sem falar e , eventualmente falar o contrário, afim de conseguir ser perdoado sem aceitar culpa alguma. Parte deste questionamento sobre as pseudo-escusas é filosófico pois, teoricamente, só se pode pedir desculpas por algo que cometemos pessoalmente. Muitos governos e empresas tem adotado uma forma genérica de se desculpar, do tipo: “lamentamos a todos aqueles que possam ter se sentido prejudicados….etc. Num exemplo concreto vemos o primeiro-ministro Tony Blair, na véspera do 200º aniversário da proibição da escravidão em navios britânicos dizer : “quão profundamente vergonhoso foi o tráfico de escravos. Também Bill Clinton incorre neste não –pedido pessoal, quando na África, pede desculpas pela inação do mundo todo durante o genocídio em Ruanda.

 

Pedir desculpas pela nação ou por todos os seres humanos é diferente de pedir desculpas por si mesmo, uma vez que a responsabilidade e a culpa ficam diluídas no tempo e no número de pessoas envolvidas.

 

Outra forma semântica travestida de remorso ou arrependimento é a voz passiva abstrata, que não identifica autores e ninguém assume a responsabilidade: “erros foram cometidos ….. (no passado ou no presente). Pedir falsas desculpas causa benefícios relativos para as vítimas, uma vez que atende à necessidade básica do ser humano de ter emoções desagradáveis reconhecidas. Quanto aos infratores os benefícios secundários são claros:

  • Mudam a forma como os outros os percebem;
  • Mantem os relacionamentos que de outra forma seriam prejudicados;
  • Evitam litígio e /ou evitam indenizações por negligencia;
  • Amenizam uma aparente ofensa ou impedem a sua repetição, com quando uma companhia aérea pede desculpa por um atraso.

 

Negociadores muitas vezes usam essa tática para acalmar situações tensas: um pedido de desculpas pode desarmar as emoções mesmo quando você não reconhece responsabilidade pessoal na ação ou não admite uma intenção de prejudicar.

 

Oscar Wilde[12], com sua inteligência mordaz bem apontou: ” Há um luxo na auto-reprovação. Quando nos culpamos, sentimos que ninguém mais tem o direito de nos culpar. É a confissão, não o sacerdote, que nos dá a absolvição “..

 

   EFICÁCIA DAS DESCULPAS ( pessoais, diplomáticas e históricas )

 

Avaliar um pedido de desculpas não é tarefa fácil. Nas relações interpessoais nunca saberemos à priori como a outra pessoa vai responder , além de expor nossa vulnerabilidade e nos forçar a uma posição de humildade. Muitas pessoas respondem bem ao pedido de desculpas e também ficam vulneráveis permitindo e até melhorando a relação interpessoal; mas outras podem se sentir orgulhosas, e aproveitar este momento para triunfar e ficar arrogantes.

 

Muitos meses e anos podem se passar antes que um pedido de desculpas resulte numa retomada da relação e, muitos vezes esta retomada nunca acontece, pois pedir desculpas e ser perdoado são ações completamente independentes. A pessoa pode ser perdoada, mas a relação jamais ser retomada, por perda de intimidade e confiança seguras. Se, entretanto, corremos riscos e não temos garantias em relação à reação do outro, pedir desculpas traz muitos benefícios para nós mesmos.

 

Reconhecer os próprios erros é se fortalecer, é crescer como ser humano , estabelecendo metas de honestidade e dignidade. Reconhecendo o erro não incorremos no perigo de repeti-lo, nem de perpetuá-lo, tiramos o peso da culpa da contraparte, damos exemplos para futuras gerações ( filhos, netos, etc. ) de como a justiça pode ser feita, e, com sorte, não perdemos relações importantes.

 

Harriet Lerner em “Ciranda da Intimidade” e no recente livro Why want you apologize? estuda profundamente as dificuldades e ganhos pessoais do ato de pedir desculpas e de perdoar.

 

Pois bem , se nem no nível interpessoal é simples avaliar a eficácia dos pedidos de desculpas, como avaliar situações de conflito que envolvem povos diferentes, raças diferentes e até tempos diferentes, como no caso das desculpas diplomáticas ou históricas.

 

Testes empíricos e quantitativos estudam esta questão com resultados pouco claros. A maior parte destes estudos foca numa amostragem da população lesada ou em testes laboratoriais que simulam situações onde injustiças são cometidas, coletando os efeitos dos pedidos de desculpas. Outros trabalhos[13] focam na forma linguística e comportamental do pedido de desculpas listando critérios para que um pedido seja mais bem aceito do que outro.

 

Bobowik, M. & Páez, D. & Arnoso, M. & Cárdenas, M. & R. & Zubieta, E. & Muratori, M. (2017) [14],[15] estudaram, por exemplo, sistematicamente, os efeitos de pedidos desculpas dos governos pós ditatura militar, em 3 países da américa latina: Chile, Argentina e Paraguai. Concluíram que apenas no Chile eles não foram efetivos, pois lá , parte da amostragem mais jovem mostrava-se cética, crítica e sem confiança institucional. Nos outros dois países as desculpas desempenharam um papel de sucesso em contextos de transição, reforçando a confiança e segurança nas instituições. De forma geral estes autores sugerem que as comissões de justiça e reconciliação desempenham um papel bem sucedido como agentes da justiça e facilitadores da transição, reforçando a reconciliação.

 

Steele, R. R. e Blatz[16], C.W. (2014) estudaram o efeito do pedido de desculpas emocional do então Presidente Clinton para afro-americanos que participaram de uma pesquisa longitudinal sobre sífilis nos E.U.A. (ver tab.1). Concluíram que, mesmo as desculpas mais elaboradas não redundaram em perdão e confiança, conseguindo, no máximo, maiores percepções de remorso e normas de justiça. Outro estudo[17] sugere que, se uma organização violar um contrato psicológico e desejar reparar o relacionamento com a vítima, ela deve se concentrar em oferecer reparações adequadas, pois apenas um pedido de desculpas não aumenta o senso de poder da vítima nem diminui seu desejo de vingança.

 

A propósito das desculpas históricas, por crimes cometidos contra a humanidade, há, na literatura uma certa ênfase no elemento afetivo , destacando a sinceridade com que são feitas, os sentimentos de auto-reprovação (culpa, vergonha, tristeza) que são expressos e a compensação material para as vítimas. A Alemanha[18] parece ter sido muito melhor sucedida na sua forma de pedir desculpas aos judeus pelo Holocausto do que o Japão pelos seus crimes de Guerra .

 

Pedidos de desculpas formais, feitos em nome de uma nação correm o risco de desencadear direitos de reparação monetária. A escravidão de negros africanos é o melhor exemplo deste temor, pois nunca recebeu desculpas claras das grandes nações do mundo. Bill Clinton[19]em 1994, numa visita à África chegou perto, reconhecendo que os EUA nem sempre agiram corretamente com os descendentes africanos[20]. Em 2001[21], a Inglaterra foi acusada de impedir que a União Europeia fizesse um pedido de desculpas pelo comércio transatlântico de escravos.

 

Entre nós, brasileiros, o sistema de quotas universitárias[22] em processos seletivos para ensino superior foi regulamentada pela Lei 12.711/2011, e beneficia o acesso de estudantes da rede pública em instituições de ensino superior federais, com separação de vagas para candidatos de baixa renda, negros e índios. Além disso promove diversas políticas públicas para afrodescendentes visando a criação de oportunidades e a igualdade racial. Possui 65 artigos, sendo que o fator abordado mais importante é a inclusão das comunidades negras em diversos programas e vertentes da sociedade. Mas mesmo este ato reparatório levanta questionamentos e protestos. Nos Estados Unidos um sistema semelhante foi instaurado em 1960 , e abolido em 2007 pela Suprema Corte, com o pressuposto que o sistema de cotas em nada contribui para a igualdade das raças.

No Brasil a inconstitucionalidade da lei, a maquiagem na educação e o reforço do preconceito nas universidades são os argumentos mais usados por quem é contra as cotas.[23] . O historiador e escritor João José Reis[24], franco defensor da Lei das Cotas, assim se expressou na 15ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) :

“Isso (cotas em universidade federais) é uma migalha diante da exploração a que foi submetida a África durante o

tráfico negreiro. É uma mão que se estende ao continente africano, mas é uma coisa quase que ridícula diante do orçamento nacional”.

 

Resumindo e para concluir este tópico, há argumentos contra e a favor da pratica de desculpas históricas. Dentre os argumentos contrários destacamos:

  • Não se pode julgar a culpa moral do passado pelos padrões do presente;
  • Pessoas mortas não podem responder e nem desdizer o pedido de desculpas;
  • Muitos políticos usam desculpas sobre o passado como salvo conduto para não agirem no presente.

 

Qualquer povo que pesquisar seu passado vai encontrar momento sem que foi vítima e outros aonde foi o agressor. Melhor olhar o futuro e fazer justiça daqui para frente. Quanto aos argumentos a favor, os mais relevantes são aqueles que encaram a história da humanidade como um processo em constante mudança, mas com memória e moral.

 

Abrir feridas do passado reconhecendo erros cometidos é apenas um primeiro passo de cura pública que pode começar com palavras e terminar em ações. É um ato simbólico , um marco, com efeitos poderosos, com ou sem reparação material. Porém seu funcionamento não é mágico, diz Marrus (2006). A dor de danos causados e vidas perdidas em guerras e genocídios não pode ser calada por palavras poderosas ou por dinheiro algum. Desculpas não podem desfazer o que foi feito, mas são preferíveis ao silencio sombrio e rancoroso, pleno de culpa por um lado e desejo de vingança por outro. Mesmo se forem rejeitadas as desculpas possibilitam:

  • O reconhecimento das irregularidades;
  • Validam reivindicações das vítimas;
  • Certificam a responsabilidade;
  • Incentivam o diálogo e a reconciliação;
  • Reforçam normas positivas, promovendo o repensar de direitos e deveres , ajudando a solidificar um consenso em direitos humanos.
  • São a única maneira de limpar o passado para que se possa sonhar com um futuro melhor e aliviar a herança de ódio e culpa que se deixa para futuras gerações.

 

O QUE TORNA UM PEDIDO DE DESCULPAS EFICIENTE?

 

Nem todo pedido de desculpas é eficiente. Muitos não contém nenhuma genuinidade ou reconhecimento do erro cometido, como as não–desculpas que citamos em capítulo anterior. O clássico: “ lamento que você tenha se ofendido”, ou “lamento que você tenha me entendido errado” − são exemplos deste tipo de pedido que agride duplamente a vítima: pela ofensa em primeiro lugar e no segundo por ter sido insuficientemente esperta para discernir o verdadeiro significado do que foi dito.

 

A pesquisa sobre desculpas interpessoais e históricas de Blatz C.W., Schumann K.; Ross M. (2009) sugere que uma desculpa abrangente deveria conter até seis elementos distinto, mas que se complementam:

  1. Remorso (por exemplo, “Me desculpe”);
  2. Aceitação de responsabilidade (por exemplo, “É minha culpa”);
  3. Admissão de injustiça ou comportamento errado (por exemplo, “O que eu fiz estava errado “;
  4. Reconhecimento de danos e / ou sofrimento das vítimas (por exemplo,” Eu sei que você está chateado “);
  5. Promessa de agir melhor no futuro (por exemplo,” Eu nunca farei novamente “);
  6. Oferta de reparação (por exemplo,” Eu pagarei pelos danos).

 

Cada um destes elementos atende a importantes necessidades psicológicas indicando que o agressor se preocupa com o bem estar das vítimas, reconhece seu sofrimento, absolve-as de qualquer culpa, está empenhado em defender um sistema social legítimo, justo e reparar com dinheiro ou leis os erros do passado.   No caso de desculpas governamentais, por crimes contra a humanidade, outros itens podem ser agregados visando reparar, emocionalmente, o narcisismo grupal (Cukier, R., 2001) da maioria jovem, que não participou dos fatos relatados, e da minoria vitimizada:

  1. Pode-se abordar a baixa consideração social da minoria vitimizada,
  2. enfatizando as contribuições importantes e únicas deste grupo para a sociedade como um todo. Esses elogios visam confirmar qualidades positivas e demonstrar que as vítimas são valorizadas.
  3. Pode-se enfatizar que os membros atuais da maioria são irrepreensíveis (nem eram vivos na época em que os erros foram cometidos) minimizando resistências ao pedido de desculpas. Trata-se de elogiar o atual sistema de funcionamento social.
  4. O texto pode salientar as diferenças marcantes entre o governo atual e o anterior, distanciando e condenando as ações passadas, ressaltando sua visão diferenciada e progressista.

 

Lewicki, R. J., Polin B., Lountewian R. B. (2016) , da Universidade de Ohio, com uma amostragem de 755 participantes, conseguiram resultados semelhantes, concluindo que um pedido de desculpas é tanto mais efetivo quanto maior for o número de elementos, abaixo citados, que possuir em seu texto:

  1. Expressão de arrependimento
  2. Explicação do que foi feito errado
  3. Reconhecimento de responsabilidade
  4. Declaração de arrependimento
  5. Oferta de reparação
  6. Pedido de perdão

 

CONCLUSÃO – E O PSICOSOCIODRAMA PODE AJUDAR?

 

Como vocês puderam ver, este tema é maior do que eu supunha ao me deparar com ele no meio de um Sociodrama. Será que nós psicodramatistas, sociodramatistas, podemos ajudar? Será que o fato de terem pedido desculpas ( ver apêndice 1) num sociodrama, modificou algo nos participantes do nosso workshop?

 

Sabemos que erros cometidos no passado por nós ou contra nós , por nossa família ou contra nossa família permanecem como “negócios inacabados” na sociedade e no nosso psiquismo. Existe um dano transgeracional , uma vez que o impacto de traumas severos se transmite para sucessivas gerações . (Schutzemberger A. A., 1997). Compartilhar nossas feridas herdadas, nossas lealdades invisíveis ( Nagy, I. B. ,1983), perceber o reflexo destas questões em nossa conduta adulta atual pode sim, acreditamos ser muito benéfico.

 

Quanto à eficácia do sociodrama nesta questão, teremos que continuar pesquisando. Cada sociodrama terminado sempre abre a perspectiva de novos sociodramas. Por isso quero concluir este artigo prospectando qual direção futuros sociodramas poderiam tomar para continuar agregando conhecimento a esta questão:

 

  • Cada pedido de perdão poderia virar uma vinheta a ser psicodramatizada, onde as várias partes do conflito ganhariam voz;
  • As dores listadas poderiam ser categorizadas num próximo sociodrama, dando origem a pequenos grupos: grupos das dores pessoais; grupo das dores familiares, grupo das dores culturais e/ou históricas, grupo das dores religiosas, etc. Uma multiplicação dramática mostraria as diferentes ressonâncias de cada conflito exposto e até poderiam surgir propostas de novos papéis , mediações, etc.;
  • Poderíamos começar um sociodrama pedindo a todos que ouçam o pedido de desculpas que mais gostariam de ouvir na vida. A partir daí poderíamos compartilhar em grupo, criar imagens das sensações produzidas e , através de escolhas sociométrica, trabalhar com algumas imagens. Ou ainda pedir que nos ofertassem estes pedidos de desculpas, para que o grupo os encenasse livremente, sob a direção do autor ;
  • Ou , ao contrário, poderíamos começar um sociodrama com os pedidos de desculpas que os participantes gostariam ter a coragem de fazer. Várias cenas poderiam ser protagonizadas a partir daí;
  • Poderíamos trabalhar com nossa própria Instituição de Psicodrama e ver quais pedidos de desculpas deveriam ser emitidos;
  • Poderíamos trabalhar com oferecer ou recusar o perdão e que exigências faríamos para retomar relações difíceis; etc.
  • Poderíamos dividir o grupo ao meio: metade jogaria o papel do agressor e metade o da vítima. Após algum tempo de interação e jogo livre pediríamos que invertessem os papéis- a metade vítima se tornaria o agressor e vice –versa. Em seguida um caminhar introspectivo, para que cada um pensasse em sua própria vida e nos reflexos que o jogo agressor-vítima deixa em si.

 

 

BIBLIOGRAFIA

  • AARON LAZARE – (2004)- On Apology, Oxford University Press.
  • BLATZ C.W., SCHUMANN K.; ROSS M. (2009)- Government Apologies for Historical Injustices, Political Psychology, Vol. 30, No. 2.
  • BLOOM L.(2014) – “The art of Apology” ,Fine & Kahn, U.S.A.
  • CELERMAJER, DANIELLE. 2006. “The Apology in Australia: Re-Covenanting the National Imaginary.” In Taking Wrongs Seriously: Apologies and Reconciliation. Elazar Barkan and Alexander Karn. Stanford: Stanford University Press.
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  • LERNER, H. (2017)- Why won’t you apologize? Healing big betrayals, Touchstone books,
  • LEWICKI, R. J., POLIN B., LOUNTEWIAN R. B. (2016) – An Exploration of the Structure of Effective Apologies in Negotiation and Conflict Management Research · May 2016
  • MARRUS R. M.( 2006)- Official Apologies and the Quest for Historical Justice , Munk Centre for International Studies, Toronto, Canadá.
  • NAGY BOSZORMENYI I.Lealtades Invisibles (1983)- Editores Amorrortu- Buenos Aires
  • NICHOLAS TAVUCHIS (1991)- Mea Culpa, sociology of apology and reconciliation, Stanford University Press
  • SCHUTZEMBERGER, ANNE A. (1997)-“ Meus antepassados”, Editora Paulus.
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  • TOMLINSON, E.C., DINEEN, B.R., & LEWICKI, R.J. (2004). The road to reconciliation: Antecedents of victim willingness to reconcile following a broken promise. Journal of Management, 30, 165–187.
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    September, 210–246.

 

APÊNDICE 1

PEDIDOS DE DESCULPAS

 

  1. Nós, os …… (nome da tribo) pedimos desculpas aos …..(nome da tribo) por termos…..no passado
  2. Nós, os filhos, pedimos desculpas aos pais, por termos copiado os seus comportamentos no passado.
  3. Nós, os Maias, pedimos desculpas a todas as outras tribos, por tê-los excluído no passado.
  4. Nós todos, pedimos desculpas a todos, pelas ofensas do passado.
  5. Eu, peço desculpas a meu irmão e minha mãe, pelo meu pai, por ter feito o que ele fez a eles, no passado e espero que ele se redima.
  6. Nós, os brasileiros herdeiros, pedimos desculpas aos brasileiros, por termos permitido a desigualdade social, no passado.
  7. Nós, os japoneses, pedimos desculpas aos paulistas, por termos mostrado frieza, no passado
  8. Nós, os português, pedimos desculpas aos negros e índios, por termos maltratado, humilhado e até matado eles no passado.
  9. Nós, os evangélicos, pedimos desculpas aos outros seguidores de outras religiões, por termos sido intolerantes com as diferenças de pensamento , no passado.
  10. Nós, os mineiros, pedimos desculpas aos brasileiros, por termos sido sempre passivos, no passado
  11. Nós, os adultos pedimos desculpas ás crianças, por termos abusado delas, no passado
  12. Nós, os gaúchos italianos, pedimos desculpas aos “nortistas”, por termos preconceito pela diferença, no passado
  13. Nós, os homofóbicos, pedimos desculpas aos gays, por termos ofendido, no passado.
  14. Nós, as famílias X, pedimos desculpas a todos, por termos sido muito exigentes e críticos, no passado
  15. Nós, os paulistas, pedimos desculpas aos YY e Japoneses, por termos sido preconceituosos, no passado
  16. Nós, os alemães , pedimos desculpas aos italianos, por termos guerreado com vocês e termos destruído suas casas, histórias e sonhos, no passado
  17. Nós, os pais, pedimos desculpas aos filhos por termos oprimido, causando inseguranças e medos), no passado.
  18. Nós, os XYZ pedimos desculpas a filha, por termos desejado destruir a imagem que ela tinha do pai, no passado.
  19. Nós, os mineiros pedimos desculpas aos brutos, por termos tanta agressividades, falta de amor e afeto, no passado.
  20. Nós, os nordestinos tradicionais do interior, pedimos desculpas à humanidade, por termos atuado com preconceito velado contra eles, no passado.
  21. Nós, de origem nordestina, pedimos desculpas aos negros e mulheres, por vários tipos de violência e racismo que expressamos, no passado.
  22. Nós, os descendes de italianos, pedimos desculpas aos nordestinos, negros, pobres, homossexuais, por tê-los rebaixado, ridicularizado e condenado no passado.
  23. Nós, os baianos pedimos desculpas aos negros e índios, por termos explorado, maltratado no passado.
  24. Nós os mineiros, pedimos desculpas aos baianos, por termos humilhado dentro da igreja no passado.
  25. Nós, pais nordestinos, pedimos desculpas aos nossos filhos, por termos sido autoritários e opressores no passado.
  26. Nós, os paulistanos, pedimos desculpas aos estrangeiros, por termos tratado vocês de forma diferente e hierarquizado no passado
  27. Nós, brasileiros, pedimos desculpas aos indígenas, por termos queimado e maltratado indígenas no passado.
  28. Nós, os judeus, pedimos desculpas aos palestinos por estarmos tirando sua terra. Nada no passado justifica nossa atitude.
  29. Nós, os avós judeus, pedimos desculpas às novas gerações, por termos perpetuado a ideia de que a união entre judeus é sempre melhor.
  30. Nós, os judeus, pedimos desculpas aos árabes, por termos promovido matanças, no passado e presente.
  31. Nós, os homens pedimos desculpas as mulheres, por termos desrespeitado no passado .
  32. Nós, os homens pedimos desculpas as mulheres, por termos oprimido, segregado e desvirtuado seus valores no passado
  33. Nós, os ciumentos pedimos desculpas aos iluminados, por termos censurados e importunado sua liberdade no passado
  34. Nós, os religiosos cristãos, pedimos desculpas às crianças, por termos decepcionado elas no passado.
  35. Nós, os espiritas, pedimos desculpas aos evangélicos, por insultá-los e discriminá-los, no passado.
  36. Nós, os torcedores agressivos, pedimos desculpa aos torcedores em geral, por termos provocado violência no passado.
  37. Nós, alegria, pedimos desculpas a alegria, por termos – sermos egoístas, no passado.
  38. Nós, os “amigos”, pedimos desculpas aos amigos, por termos feito tanto mal à você e ter afetado tanto sua vida, no passado
  39. Nós, os criativos, pedimos desculpas aos científicos, por não termos dado a atenção que mereciam no passado.
  40. Nós, os professores, pedimos desculpas aos alunos(as), por termos humilhado vocês, no passado
  41. Nós, os exigentes, pedimos desculpas aos livres, por termos exigido que eles fossem perfeitos e nunca errassem no passado
  42. Nós, os superiores, pedimos desculpas aos “inferiores”, por termos humilhado, segregado, ofendido, no passado
  43. Nós pais, pedimos desculpas aos filhos, por não termos valorizado o lugar de cada um membro desta família no passado.
  44. Nós, os Pais, pedimos desculpas aos filhos, por termos sido autoritários e opressivos no passado
  45. Nós, s família FFF, pedimos desculpas por termos dado mais valor às coisas materiais do que às pessoas no passado
  46. Nós, as mães, pedimos desculpas aos filhos, por termos descontado nossos problemas neles no passado.
  47. Nós, os Cintra pedimos desculpas à Vó, por termos rompido com ela no passado.
  48. Nós, os antepassados, pedimos desculpas aos novos familiares, por termos perpetuado uma cultura crítica , de julgamento no passado
  49. Nós, as matriarcas, pedimos desculpas aos filhos, por termos omitido o homem e o masculino.
  50. Nós, os Brutos, pedimos desculpas aos mineiros, por termos sido tão brutos, ignorantes, orgulhosos e violentos no passado.
  51. Nós, os administradores, pedimos desculpas aos trabalhadores, por termos sido filhos incompetentes e prepotentes no passado
  52. Nós, os silenciadores, pedimos desculpas aos que tem voz, por termos tolhido a voz dos que tinham coragem no passado

 

 

[1] Psicóloga, psicodramatista didata supervisora, pela SOPSP. Mestre em psicologia social, pela PUCSP. Professora do curso de Formação em Psicodrama convênio SOPSP-PUCSP. Atendimento psicoterapêutico adulto, casal e família. Consultoria em Escolas, Empresas, Instituições.  Pesquisadora sobre Psicodrama e relações interétnicas.
[2] Cristine G. Massoni -Psicóloga (Mackenzie-SP), Psicoterapeuta, Psicodramatista-didata, professora-supervisora em formação na Sociedade de Psicodrama de São Paulo (SOPSP).
[3] Cukier, R.- Sobrevivência Emocional: as dores da infância revividas no drama adulto, Editora Ágora, 1998
[4] Cukier, R. – em “Psicodrama Da Humanidade. Um Homem Á Frente De Seu Tempo. O Psicodrama De Moreno No Século XXI, Editora Agora, 2001
[6]http://www.aph.gov.au/About_Parliament/Parliamentary_Departments/Parliamentary_Library/FlagPost/2017/February/Apology_Day_2017
[7] http://www.folhadelondrina.com.br/geral/belgica-pede-desculpas-pela-inacao-mundial-no-genocidio-de-ruanda-br-font-size-279649.html
[8]http://query.nytimes.com/gst/abstract.html?res=9A0DE7DF1331E233A2575AC0A9659C946997D6CF&legacy=true
[9] https://www.thetrumpet.com/5027-angela-merkels-historic-holocaust-speech-but-does-the-pope-agree
[10] http://psicologiaevoaplicada.blogspot.com.br/2014/06/coletivismo-versus-individualismo.html
[11] https://pt.wikipedia.org/wiki/Não_desculpa
[12] Wilde, Oscar (2012)- O Retrato de Dorian Gray, editora Penguin E Companhia Das Letras (1°edição 1989) .
[13] https://fisher.osu.edu/news/how-apologize-according-science
[14] Bobowik, Magdalena & Páez, Darío & Arnoso, Maitane & Cárdenas, Manuel & Rimé, Bernard & Zubieta, Elena & Muratori, Marcela. (2017). Institutional Apologies and Socio-emotional Climate in the South American Context. British Journal of Social Psychology. . 10.1111/bjso.12200.
[15] Cardenas, M., Paez D.Arnoso M., E  Rime, B. ( 2013) The Perception of the Socio-emotional Climate and Institutional Trust in Victims of Political Violence: Impact Assessment of the National Commission of Truth and Reconciliation. Psykhe [online]. 2013, vol.22, n.2, pp.111-127. ISSN 0718-2228.  http://dx.doi.org/10.7764/psykhe.22.2.572.
[16] Steele, R. R. e Blatz (2014)- Faith in the Just Behavior of the Government: Intergroup Apologies and Apology Elaboration, Journal of Social and Political Psychology, vol.2, n° 1.
[17] Alongi A. (2011) -Effects of group apology and reparation after breach of psychological contract, http://scholarworks.rit.edu/theses/1374/
[18] https://www.washingtonpost.com/news/worldviews/wp/2015/08/13/germany-won-respect-by-addressing-its-world-war-ii-crimes-japan-not-so-much/?utm_term=.e62c76045aea
[19] https://www.haaretz.com/world-news/.premium-1.814785
[20] Estima-se que cerca de 900 mil negros africanos vieram para a América no século 16, 2,75 milhões no século 17, 7 milhões no 18º e mais de 4 milhões no 19º – talvez 15 milhões no total. Um verdadeiro Holocausto negro. http://abhmuseum.org/what-is-the-black-holocaust/
[21] https://www.theguardian.com/world/2001/sep/03/race.uk
[22] http://sistema-de-cotas.info
[23] http://vestibular.mundoeducacao.bol.uol.com.br/cotas/argumentos-contra-as-cotas.htm
[24] https://g1.globo.com/pop-arte/flip/2017/noticia/historiador-defende-cota-racial-e-critica-escravidao-contemporanea-e-reforma-trabalhista.ghtml