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CODEPENDÊNCIA – Você conhece alguém que sofre deste mal?

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CODEPENDÊNCIA – Você conhece alguém que sofre deste mal?

 

Alguém já disse, brincando, que a diferença entre o homem e os animais não reside tanto no fato dele ser racional mas sim, no fato do homem ter parentes. Talvez por nascer semi-pronto e ter uma longa infância sob os cuidados de alguém que o ajuda a sobreviver, o homem é o animal que se envolve mais longa e profundamente com seus antecessores e sucessores.

Pai, mãe, irmãos e irmãs, avós, sogros, tios e primos……. heis a nossa grande peculiaridade e também a fonte dos nossos maiores problemas!

Este o caso da codependência, um tipo de patologia emocional e vincular, descrita por estudiosos do comportamento humano nos EUA. Os primeiros estudos datam de 1983, e apesar dela ainda não constituir um quadro nosográfico no DSM-IV, existem vários1 livros escritos com este título, inclusive um, já traduzido para o português2.

Primeiramente a descrição deste quadro incluía apenas famílias de pacientes alcoólicos mas, com o tempo seu significado foi estendido e atualmente o termo codependência também se refere à conduta de familiares e parentes de pessoas que tem algum problema grave e crônico, físico ou emocional.

“Uma pessoa codependente e aquela que deixa o comportamento de outra pessoa controlar o seu e que fica, por seu turno obcecada em controlar o comportamento desta outra pessoa.”

Tudo começa com o fato de nos encontrarmos ligados (por amor, obrigação ou dever) a alguém muito complicado, doente física ou emocionalmente, que por conta desta doença se auto-destrói ou desiste de viver e precisa, aparentemente, de nosso apoio e cuidado constante.

Esta pessoa pode ser uma criança que nasceu com um defeito físico, um adulto deprimido, uma esposa ou amante anoréxica, um irmão que não se saiu bem na vida, uma irmã que sempre se mete em encrencas e parece frágil para resolvê-las, um pai alcoólatra. Enfim, o importante não é quem esta outra pessoa é, ou qual doença ela tem. O núcleo da questão está em nós mesmos, na forma como deixamos que ela afete nosso comportamento e nas formas como tentamos influir no comportamento dela ou “ajudá-la”.

Estou falando, de uma reação à autodestruição do outro que acaba nos destruindo. Tornamo-nos vítimas da doença alheia e, quanto mais nos esforçamos para fazer esta pessoa abandonar o vício ou mudar de postura diante da vida, menos ela melhora e mais arrasados ficamos.

Parece que nossa vida gira em torno dela, não mais agimos por vontade própria mas sim reagimos à forma como o(a) doente está: se está bem ficamos bem, fazemos planos, temos esperança; na hora em que ele(a) volta a beber ou deprimir, suspendamos o cinema, os projetos, nos sentimos uma porcaria.

Sei que muitos de vocês já entenderam do que estou falando porque provavelmente vivem ou atendem pessoas que experienciam situações semelhantes. Talvez o que vocês não saibam é que alguns cientistas consideram este comportamento de ajuda crônica ao outro, em si mesmo, uma doença emocional, grave e progressiva. Dizem até que o codependente quer e procura pessoas complicadas para se ligar, só podendo ser feliz desta forma. Eu não penso exatamente assim, pois muitos codependentes que atendi eram pessoas cansadas de sofrer e que queriam sinceramente mudar, mas seja por educação, religião, culpas variadas e… cada caso um caso -, não conseguiam se desligar.

Algumas características comuns aos codependentes me chamam muito a atenção: são em geral pessoas de natureza benevolente, vieram de famílias emocionalmente perturbadas e desde a infância quiseram consertar as coisas que estavam erradas; tem uma tendência a se responsabilizar e culpar por tudo; são muito dependentes do amor, do elogio, da avaliação do outro; acham que sabem melhor e que agüentam mais do que os outros determinadas situações; mentem para si mesmos dizendo que “as coisas estarão melhores amanhã”; ” esta foi a última vez “…; tem dúvidas se serão felizes no futuro ou se algum dia encontrarão o verdadeiro amor; sentem dificuldades de estar perto de pessoas, se divertir e ser espontâneo; alternam um cuidado super-carinhoso para com a pessoa doente e formas agressivas e grosseiras de lidar com ela; vão se sentindo com o passar dos anos cada vez mais infelizes, deprimidos, isolados, violentos; tem desordens de alimentação (ou comem muito ou pouco); acabam tendo algum tipo de adição: cigarro, álcool, calmantes, etc.

Esta doença de forma genérica está associada à várias formas de abuso infantil e os codependentes têm dificuldades basicamente em cinco áreas:

  • 1- Baixa auto-estima;
  • 2- Dificuldade de colocação de limites;
  • 3- Dificuldades em reconhecer e assumir sua própria realidade;
  • 4- Dificuldades de tomar conta de suas necessidades adultas;
  • 5- Dificuldade de expressar suas emoções de forma moderada.

Será que a codependência tem cura? Não há uma resposta simples a esta questão. Nos EUA formaram-se grupos de auto-ajuda, como por exemplo os grupos para famílias de alcoólicos anônimos, onde se procura discutir e dar apoio aos codependentes.

Minha própria experiência mostra que a psicoterapia, especialmente o psicodrama por ser uma abordagem que privilegia o estudo dos vínculos, costuma ser muito útil nos casos onde o codependente se encontra desiludido da própria potência para mudar a vida do outro e começa, realmente, a querer mudar a própria vida. O tratamento auxilia e encoraja o paciente a empreender as mudanças necessárias, a se confrontar com seu passado abusivo e se reposicionar diante do parente doente, afim de retomar uma forma mais saudável de viver, ainda que o parente continue querendo morrer.

BIBLIOGRAFIA

· Beattie, Mellody (1994) – Codependência nunca mais! – Editora Best Sellers, São Paulo.

· Cukier.Rosa (1998)- Sobrevivência Emocional: as feridas da infância revividas no drama adulto, Editora Ágora, S.Paulo.

· Cermak, T.L (1986). – Diagnostic criteria for Codependency – Journal Of Psychoatctive Drugs. 18(1):15-20 citado por Mellody, Pia.- Facing Codependence, Harper & Row, Publishers, San Francisco,1989.

· Mellody, Pia (1989)- Facing Codependence, Harper & Row, Publishers, San Francisco,

1 Cermak,T.L. (1986)

2 Beattie,Mellody (1994)

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