ANSIEDADE, UMA DOENÇA CULTURAL? ROSA CUKIER

ANSIEDADE, UMA DOENÇA CULTURAL?   ROSA CUKIER

 

Vocês já conhecem o spinner? É um peão metálico que gira rapidamente, nunca para, apenas acelera cada vez mais. Ele tem sido recomendado como brinquedo terapêutico para ansiedade infantil e TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade ou DDA – Distúrbio do Déficit de Atenção.

Um artigo no New York Times sugere que este brinquedo é, na realidade, a metáfora mais fiel da nossa era. Loucamente acelerada, com comunicações rápidas, imprecisas e superficiais que enchem nossas mídias sociais. Twitter, facebook, Instagram…… somos inundados por uma quantidade imensa de informação inútil. Essa enxurrada de informação nos instiga a consumir milhões de ofertas, compras, saberes, filmes, fofocas, etc.

Estamos o tempo todo monitorando nossas taxas cardíacas. Navegando incessantemente pela internet e enchendo os estúdios de meditação, como se uma hora de atenção focada pudesse servir de antidoto para toda a aceleração que a precede e sucede.

Transtorno

Nos EUA, de acordo com o Centro Nacional de Saúde mental 38% das meninas de 13 a 17 anos e 26% dos meninos apresentam transtorno de ansiedade e, nas universidades, este diagnóstico é superior ao de depressão. Parece que mudamos da ‘Era do Prozac”, para a Era dos Ansiolíticos” e da maconha, uma droga que, reconhecidamente, aplaca a ansiedade e movimenta uma indústria de bilhões de dólares.

Além, é claro, das questões político-econômicas, terrorismos bombásticos, corrupção, guerra fria entre China, Rússia e Coréia do Norte, enfim fatos cotidianos que causam sensação de perigo global, fartamente propagandeado pela mídia jornalística.

Enfim, este peão que nos representa como seres humanos acelerados e dissociados, corre, corre, para onde, para quê? Um dos meu primeiros analistas, me disse um dia que “quem corre muito chega mais cedo aonde todos os seres humanos vivos estão indo, ou seja, na morte”.

Há que curtir o caminho, desacelerar, administrar a sensação de perda de algo. Se estamos perdendo algo, é o momento presente, o único aonde realmente estamos.

rosacukier@uol.com.br